Cirurgia inédita, que retira tumor através dos olhos do paciente, é realizada pelo SUS no RS
- 17/12/2024
Método evita que craniotomia, ou seja, retirada do osso da cabeça, nem mexe na musculatura. Cirurgia foi realizada no Hospital Santa Casa, em Porto Alegre Reprodução/RBS TV Uma pequena cicatriz ao lado do olho. Esta é a marca que fica no rosto de quem passou por uma cirurgia neuroendoscópica transorbital, a retirada de um tumor do crânio através dos olhos. A intervenção, oferecida de graça pelo SUS, além de planos e particular, é inédita no Rio Grande do Sul e foi realizada no Hospital São José, da Santa Casa de Porto Alegre, no mês de novembro. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp Veja outras reportagens do Saúde em Dia "A grande vantagem é que a gente não precisa fazer a retirada grande do osso, a craniotomia. Não se mexe nessa musculatura, que é o que costuma cursar com muita dor no pós-operatório. E também é uma incisão bem menor, tem menos riscos de infecção, de sangramento e uma duração de hospitalização menor", detalha o neurocirurgião da Santa Casa de Porto Alegre, Antônio Delacy. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, há um único relato de operação semelhante na cidade de Barretos, interior de São Paulo. A reportagem da RBS TV acompanhou o procedimento na instituição gaúcha. No centro cirúrgico, a equipe médica utiliza um endoscópio para acessar o crânio pela lateral do olho. O paciente recebe anestesia geral, e o trabalho dos profissionais se estende por cerca de cinco horas - de tempos, em tempos, a cirurgia é interrompida. "A gente tem uma série de cuidados. Como agora, a gente estava deslocando um pouco o olho pra parte do meio. A cada 20 ou 30 minutos, a gente para, espera, solta, espera que ele se recupere, digamos assim", complementa Delacy. "Essa lesão pode comprimir o cérebro ou as estruturas ao redor dele e produzir sintomas pelo seu crescimento, embora ela não seja do próprio cérebro. Então, lesões benignas da base do crânio podem produzir sintomas pelo seu crescimento. Sintomas visuais, sintomas auditivos ou sintomas até de compressão do cérebro, que é a falta de força num braço, falta de força numa perna ou alteração da palavra", complementa Ápio Nunes, chefe do serviço de neurocirurgia do Hospital de Clínicas de Poa Os olhos de Juliana ficaram inchados por poucos dias após a cirurgia, mas hoje voltaram ao aspecto anterior. Economia ao SUS A nova cirurgia é indicada, principalmente, para tumores da base do crânio, pela proximidade do acesso com a órbita. Para aprender a técnica, o médico passou por uma especialização na Espanha. Mesmo inovadora, representa economia ao Sistema Único de Saúde, na análise do profissional. "A gente não precisa de robô ou de uma máquina específica pra isso. Simplesmente um endoscópio, que a gente já usa normalmente. E quando a gente retira o osso do crânio, muitas vezes tem que fixar com placas e parafusos. Nesse caso, a gente não usou nenhuma. Usa menos insumos. Menos gastos, pro paciente, pro convênio, pro sistema", descreve o profissional. Jovem retirou dois tumores Juliana Nunes Waskow viajou de Chuvisca, na região sul do RS, até Porto Alegre, para retirar um tumor junto ao cérebro. "Eu tinha muita dor de cabeça e ia parar no posto de saúde tomar medicamento na veia porque o oral já não funcionava", recorda a jovem, de 27 anos. Quando recebeu o diagnóstico, ela teve medo dos efeitos do pós-operatório. "No primeiro momento eu pensei, 'vão cortar meu cabelo' porque a gente é jovem e se preocupa, né? E aí eu fiquei com medo também, porque a minha mãe ficou um pouquinho afundada aqui. Ela ficou bastante tempo na UTI", relembra do caso da mãe, que operou um aneurisma. O tumor de Juliana é benigno. "Quando a gente tem um tumor dentro do crânio, que é uma caixa fechada, qualquer coisa que comece a crescer aumenta a pressão ali dentro. Então, a gente chama de benigno porque ele não vai causar metástases, mas ele está crescendo e empurrando o nosso cérebro. É um pouco paradoxal a gente chamar de benigno assim mesmo", pondera o neurocirurgião Antônio Delacy. VÍDEOS: Saúde em Dia
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